A contratação foi facilitada pela organização Estou Refugiado

“A gente não contratou um refugiado por contratar”, assim avisou desde o primeiro momento Guilherme Vasconcelos, sócio do restaurante Dona Manjerico com a chef Luciana Costa. A contratação de Carina Fundo Musiteme, refugiada angolana, feita em parceria com a Estou Refugiado e finalizada no final de janeiro de 2021, veio em um momento de renovação, após o difícil 2020 enfrentado pelas pequenas e médias empresas do ramo da gastronomia. “Criamos a vaga logo no começo de 2021, quando começamos a ter uma luz no fim do túnel, pensando em todo o cenário de pandemia e, principalmente, em como as diferenças sociais aumentaram”, conta Vasconcelos.

Luciana é formada em hotelaria e atua há dez anos com gastronomia. Nesse meio-tempo, viu de perto como o mercado não é nada democrático, sendo por vezes machista e preconceituoso. Agonizante como o ranger de dentes. Assim, a contratação da refugiada veio alinhada ao propósito do Dona Manjerico, que há seis anos acredita ser papel das empresas atuar junto à comunidade. Eles compactuam da filosofia de que, mesmo que se tenha apenas um funcionário, ele tem que ir para casa diferente do que chegou, todos os dias, e atuar diferente na comunidade dele.

É como contratar um empregado brasileiro

Com frequência, é por pura falta de informação que as empresas descartam currículos de refugiados. Pensa-se que o processo de contratação é mais complexo ou até mesmo supõe-se que seja ilegal admiti-los. Mas é totalmente o contrário. Segundo a pesquisa Caminhos para o Refúgio, da Universidade de Brasília (UnB), 47,8% dos profissionais da área acreditam que colegas evitam contratar refugiados por medo de autuações do Ministério do Trabalho e 91,2% não sabem que essa contratação é igual à de todos os brasileiros.

Está no ordenamento jurídico brasileiro a garantia de acesso aos direitos trabalhistas a pessoas em condição de refúgio, como previsto na Convenção das Nações Unidas de 1951, da qual o Brasil é signatário. Os refugiados e solicitantes de refúgio podem obter Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e, portanto, podem trabalhar regularmente no país.

Foi o que descobriu Guilherme ao buscar por ONGs que atuam no tema. No total, foram dois meses desde o momento em que começaram a buscar ONGs que atuam na área até a contratação da Carina e, segundo ele, foi um choque perceber que o processo é bem menos burocrático do que se imagina: “existe uma falsa percepção no mercado de que a contratação de refugiados é burocrática, difícil, com encargos extras, e de fato não é”.

Integração e respeito

A ambientação dos refugiados começa antes mesmo de sua chegada à empresa, sendo necessária a criação de uma cultura de respeito no empreendimento, além de atividades de sensibilização. Foi o caso do Dona Manjerico, que promoveu a inserção da Carina com o cuidado de integrar e valorizar as histórias de cada uma ali – como o faz com todas as trabalhadoras. Até mesmo o processo de seleção e entrevistas foi feito com a participação da cozinheira líder, para que, segundo Vasconcelos, “quem entrasse já tivesse esse contato e fosse mais acolhedora a chegada”.

Carina tem 36 anos, e esse foi o primeiro emprego dela no Brasil. Ela e a irmã vieram grávidas de Angola, e hoje moram juntas, com os filhos, na Zona Leste de São Paulo. Mais do que uma chance de reconstruir a vida no Brasil, o emprego no Dona Manjerico é uma nova forma de Carina se integrar socialmente e se sentir parte, agora, de um time de cozinha com outras cinco mulheres fortes, que, assim como ela, são recheadas de histórias, oportunidades e recomeços.

Sobre o Dona Manjerico

O Dona Manjerico é um restaurante focado na cozinha prática, no dia a dia, ofertando tortas, quiches, massas, antepastos, bolos, sobremesas e outros quitutes congelados. Sem conservantes e com ingredientes selecionados e manipulados ainda frescos, o foco é preservar o sabor. É possível retirar na loja ou receber em casa, em dia e horário de preferência, pelo iFood e UberEats. A loja fica no Morumbi, onde também funciona o ateliê de produção.

Dona Manjerico
Rua Lício Marcondes do Amaral, 290 – Vila Progredior, São Paulo
@dona_manjerico
(11) 3881-9391 e (11) 99182-6172