A contratação foi possibilitada pela atuação da Ong Estou Refugiado

Em março de 2021, a M3 Tecnologia mudou duas vidas profundamente, com a contração de Papy Banioga Mantanta e Tressor Andendelenge Ebale, refugiados da República Democrática do Congo. Mas não só. Ainda no mesmo mês, Papy e Tressor mudaram também a vida dos demais funcionários, com o início de sua jornada como os novos auxiliares técnicos de telecomunicações na M3.

Como em qualquer relação trabalhista, a contratação de pessoas refugiadas envolve ônus e bônus para ambas as partes. Mas, diferente de qualquer relação trabalhista, o resultado da conexão cultural e transnacional é único. 

Para Leonardo Zullino, gerente de operações de tecnologia e um dos sócios da empresa, esta é a melhor parte de todo o processo, “ver a troca entre conhecimentos, principalmente na nossa área de tecnologia, ver como esse choque de experiências proporciona o desenvolvimento de todos, com foco na solução de problemas”. 

Recepção calorosa na turma

No momento, Papy e Tressor estão com outros recém-contratados passando por uma série de treinamentos e cursos, para trabalhar dentro das Normas NR10 e NR35, necessárias para que possam trabalhar em lugares críticos como usinas e estações de energia. 

Além da recepção acolhedora, até agora o retorno dos colegas de trabalho tem sido positivo, apoiando a empresa a continuar com o processo de inclusão de cada vez mais refugiados, segundo Daniela Spada, analista de Recursos Humanos.

É ainda notória a vontade de Papy e Tressor de aprender e agarrar a oportunidade que lhes foi oferecida: “Eles são muito esforçados e educados, se empenham realmente em fazer a comunicação acontecer, tentando se comunicar na nossa língua”, acrescentou Leonardo. 

A contratação foi facilitada pela Estou Refugiado

Desde o momento em que definiram a abertura de vagas especificamente para pessoas em situação de refúgio, procuraram a ONG Estou Refugiado. Foi através da atuação comprometida da organização que puderam se conectar com pessoas com um perfil adequado para a vaga, para a qual quatro refugiados participaram do processo seletivo. “Como empresa, a gente tem grandes dificuldades de encontrar essas pessoas, então o fundamental da Estou Refugiado foi fazer essa união. Ter um canal para buscarmos isso valeu muito a pena”, explica Gisele Rocha, supervisora técnica. 

Além de conectar empresas e pessoas, a Estou Refugiado também auxiliou durante todo o processo de contratação. Gisele conta que tinham uma série de dúvidas sobre as documentações e os processos, que foram solucionadas pela Lúcia, a quem agradeceram pela atuação: “Ela teve um papel fundamental na contratação, deu todo o apoio, tirou todas as nossas dúvidas com muita atenção, nos direcionou. Todos se mostraram acessíveis em nos acompanhar no processo e deu tudo certo”. 

A pandemia deu um empurrão para a contratação

Iniciativas inclusivas já faziam parte da missão da M3, mas o interesse pela causa dos refugiados surgiu com o agravamento da pandemia da COVID-19: “Vi a dificuldade que os refugiados estavam enfrentando com a pandemia e vi ali uma oportunidade de também poder trazer algo novo para empresa”, disse Leonardo.

Todo o processo de contratação foi tratado com sensibilidade e empatia por Gisele, que salientou: “No momento em que peguei os currículos, me coloquei no lugar de cada uma daquelas pessoas. Já é tão difícil pensar em ter que abandonar seu país, deixar sua família para trás, aí você chegar em um país novo e não ter oportunidade de poder trabalhar para dar um sustento para sua família… Eu pensei muito na família deles”.

“Valorizar as pessoas e investir nelas faz parte dos nossos valores como empresa” – Leonardo, sócio da M3 Tecnologia

A empresa foi fundada em 2005, quando começaram a atuar no mercado das telecomunicações, e depois foram focando em serviços de tecnologia, como vídeo vigilância, controle de acesso, alarmes e automação. Sua missão é ser referência em soluções tecnológicas, transformando problemas complexos em soluções eficazes. 

Além do escopo de trabalho, faz parte da narrativa da empresa contribuir com o crescimento pessoal de seus funcionários, dando a eles a oportunidade de mudar suas perspectivas de vida. No final da conversa, a dica de Leonardo para os empresários foi categórica: “Abram espaço em suas empresas para os refugiados, os benefícios são muitos!”.

O êxodo congolês

Papy e Tressor são refugiados da República Democrática do Congo (RDC). Ambos saíram de seu país à procura de condições de emprego e de vida mais dignas. Segundo dados divulgados pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), na 4º edição do relatório “Refúgio em Números” (2018), os congoleses representam a segunda maior nacionalidade de população refugiada com registro ativo no Brasil. 

A República Democrática do Congo (RDC) é um país de proporções continentais localizado na África Central, sendo o maior país da África subsaariana e segundo maior do continente, atrás apenas da Argélia.

Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a situação humanitária da RDC é uma das mais complexas e desafiadoras em todo o mundo, com múltiplos conflitos políticos e sociais simultâneos, que forçam as pessoas a deixarem suas casas a um ritmo preocupante, uma vez que a piora da violência destrói vidas e meios de subsistência em todo o país. 

Ainda, além dos conflitos que forçaram milhares de congoleses a deixar suas casas, o país também recebe grandes contingentes de refugiados de países vizinhos, como Burundi, República Centro-Africana e Sudão do Sul. 

Para quem se interessa pelas dinâmicas que envolvem o êxodo congolês, uma dica é a leitura da dissertação de mestrado “Do Congo para o Brasil: as perspectivas de vida e de trabalho de refugiados e solicitantes de refúgio congoleses no Rio de Janeiro”, de Daianne Rafael Vieira, da Universidade Federal de Pernambuco, defendida em 2015, que elenca com precisão algumas das questões relevantes sobre o tema.